quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Imortalidade

Simples devaneios do ser,
Da alma transmuta a verdade,
Retratos iconoclastas da realidade
Sonhos fugidios do viver.

Transcorre a alma errante,
Pela alameda brilhante
A transpirar inconformidade
Sempre a temer a idade.

Da alma elástica, imutável
Não desprende mais a veracidade
Apenas a reprodução da distorção.

Viver do passado instável
Com sonhos amargos e com saudade
Não é viver, é punição!

Pensamento

Dias passados – longe da memória
Dias presentes – nos aprisionam
Tempos vindouros – não adivinhamos

Eis nossa vida,
Hora após hora!

Em minha janela

Em minha janela, contemplo as gotas de chuva
Que caem, grossas e frias, da abóbada celeste,
Que, de tão cinzenta, desbota as cores do dia
E remetem-me, como num sonho, à infância.

“Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate”

Esta frase, escrita nos portões dantescos do inferno, parece descrever bem a situação que o País enfrenta. “Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate”, ou “Deixai toda a esperança, vocês que entram”, é a máxima que exprime o sentimento dos brasileiros diante de tanta corrupção e violência. Dante, que atravessa o inferno e o purgatório para buscar a amada, não imaginava que sua obra atravessaria os séculos e fosse encontrar repouso nas bibliotecas poeirentas do mundo todo. Sua obra perpetua porque o bem vence o mal, enredo que aguça a imaginação de todos os otimistas e românticos, até mesmo no Brasil. Será que os brasileiros também imaginam isto da Pátria? Que teremos que passar pelo inferno (corrupção) e purgatório (violência) para chegar ao paraíso? Talvez esta metáfora esteja errada. Talvez nós, como ingênuos patriotas, devemos deixar para que a providência divina se encarregue de resolver nossos problemas, enquanto assistimos à noite, horrorizados, no telejornal os casos bárbaros que chocam o País. Depois vamos dormir e, de manhã, já esquecemos o que vimos, então o ciclo se repete.

Rotina

É a velha rotina,
Na mesma retina
É tudo igual,
Quando pego o jornal

Servidão

Bater ponto
Na escravidão
Cair no conto
Da exploração

Comodismo
No capitalismo

Já estou pronto
Para a servidão
Sem sentimento
Não há contestação

Comodismo
No capitalismo

Sem confronto
Só há anulação
Em nenhum momento
Apenas aceitação

Comodismo
No capitalismo

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A infância não está perdida...

Sobre a ilusão da vida...

A vida é uma ilusão. Nada aqui é real, somos marionetes de um teatro diabólico. Nossas dores e nossos desabores são os temas desta sinistra história. Finais felizes são festejados em curto prazo, sendo logo esquecidos, mas os grandes clássicos da literatura, do cinema, da música, da escultura e da pintura têm o infortúnio e a tragédia humana como seus principais elementos.

Sobre as pessoas...

Não existe forma de saber como são as pessoas, apenas imaginamos como elas são, de acordo com a impressão que temos delas. Esta impressão está “impregnada” com a nossa consciência, as nossas concepções e as nossas faculdades mentais. Esta visão não representa a pessoas em si, então cada pessoa é vista de modo diferente por quem as observa. No Mundo dos Sentidos, apesar de nós, seres humanos, termos corpos e personalidades diferentes, Platão diz que temos a mesma origem, um denominador comum, que nos faz reconhecer as outras pessoas como nossos semelhantes. Neste mundo, as coisas são aproximadas, imperfeitas (utilizamos imagens-padrão para estabelecer e diferenciar as coisas).

Conhecimento

Somente o conhecimento inato é que pode existir dentro de nós sem qualquer prévia experiência. O conhecimento a priori é o único que Platão admite como verdadeiro, além das revelações místicas às quais nossas almas estão sempre sujeitas. Este inatismo platônico se atesta a partir do conceito que conhecer é recordar a verdade que já trazemos em nós, inerente ao aparato racional e intuitivo de que somos dotados desde o nascimento. Por isso, aprender é mesmo descobrir o que já sabemos.

Senso comum

Aquilo que pelo senso comum é denominado de aprendizagem é sempre uma mistura de conhecimento e saber, de objetivo e subjetivo, com implicações mútuas. Aprender implica em mudanças significativas e/ou vitais caracterizadas pelas ampliações dos conhecimentos e modificações dos saberes envolvidos. Quando um indivíduo é dominado pela paixão da ignorância, sustentada por um tipo de saber que rejeita toda e qualquer implicação com o conhecimento, podemos entender que possui um conhecimento alienado sustentado por um saber bruto. Pelo contrário, quando um indivíduo é movido pela paixão da busca, na insatisfação quase eterna do conhecimento alcançado e no esforço contínuo em ultrapassar o que se conhece, podemos entender que seu conhecimento tornou-se “autônomo”, sendo sustentado por um saber mais lapidado, aceitando intimamente a provisoriedade e parcialidade de todo conhecimento.

Das fitas cassetes aos MP3s

Com o advento das novas tecnologias e a rápida propulsão da internet, lembro-me de como era difícil o acesso à música, sobretudo às bandas antigas e mais obscuras de Rock. Desde os anos 60, quando o Rock proliferou-se em terras brazucas, até a poucos anos, o único meio de conhecer novos sons era através de amigos e de conhecidos, que tinham acesso aos discos de vinil nas grandes capitais ou no exterior. A partir daí, gravava-se o disco numa fita cassete, que passava para outra pessoa, que também a gravava numa fita cassete, e assim sucessivamente, chegando até você a vigésima gravação, com músicas cortadas e péssima qualidade de som. Não nos importávamos, aquelas fitas eram tesouros, um material invejável. Quando chegavam à mão CDs ou mesmo o próprio vinil, nossos corações transbordavam de uma melodiosa alegria, ritmados pelos acordes raros e preciosos de nossos tesouros recém-descobertos.
Em poucos anos, com o avanço da tecnologia, estas práticas ficaram no passado, pois, através da internet, encontramos qualquer disco lançado no mundo. Com uma qualidade incrível, encontramos desde uma obscura banda norueguesa de metal pesado que lançou apenas mil cópias de um disco, até um show que aconteceu ontem no Egito. Não há limites e nem impossibilidades, podemos achar praticamente tudo que se procura. Discos, outrora nunca sonhados, nem mesmo em fitas cassetes, são baixados em poucos minutos, contrabalanceando com anos de procura em sebos, lojas especializadas e feiras por todo o País.
Muitas destas raridades estão há décadas fora de catálogo, e que, provavelmente, nunca terão uma lançamento oficial em CD. Graças ao trabalho árduo de verdadeiros pesquisadores, fãs e amantes do Rock, que disponibilizam muitas horas para passar o vinil para MP3, melhorando o quanto podem a qualidade de som, somos presenteados com verdadeiras pérolas, há muito perdidas em empoeiradas estantes. Estes discos contam histórias, marcaram uma época, embalaram os sonhos e as vidas de muitas pessoas. Discos censurados pela ditadura, discos que não tiveram a divulgação necessária, discos menosprezados pela crítica, ganham, no século 21, uma nova importância, revelam fatos de nossa história, recortes de uma realidade que voltam à tona sem censura, ao alcance de todos.

Políticos

Gasolina ou cesta básica,
O que compra sua alma?
Sorriso falso ou aperto de mão,
Quanto custa sua opinião?

Pode rir, pode iludir
Mas não pode me comprar
Pode mentir, pode roubar
Mas não pode me enganar.

Eles compram o seu voto,
Eles calam a sua voz,
Fodem o seu futuro
Por isso eu voto nulo.

Pensamentos noturnos

Sinto grande fascínio pela noite. Nós podemos, na maioria das vezes, ser quem realmente somos. O véu que cobre nossa alma cai ao pôr-do-sol, de modo a revelar nossos desejos e caprichos mais íntimos. Durante o dia, as pessoas estão preocupadas demais em saber quem são, já que estão sempre correndo, sempre atarefadas, sempre em busca de dinheiro, de fama, de poder. À noite, por breves instantes, mostramos um lado belo ou sombrio. A noite não mente, não finge. Máscaras caem, mitos se desfazem.